Programa Literário Dia 25 novembro
Pavilhão de Portugal | Leitura
Convidados: Dulce Maria Cardoso
(ver+)
A força de um texto na respiração, tempo e voz de Dulce Maria Cardoso.
Não me lembro da viagem de barco para Luanda, quando tinha seis meses. Lembro-me da outra, a de avião, que me trouxe de volta a Portugal, dez anos depois. Não mais regressei a África, ainda que nunca tenha chegado bem a sair de lá. Vim aquando da descolonização, na ponte aérea, fui uma entre o meio milhão de pessoas que retornaram. Mas este meu encontro com a História maiúscula não me marcou mais do que outros encontros que fui tendo com histórias minúsculas. Encontros e desencontros. Como os três desencontros com a minha morte. Ou os encontros com pessoas extraordinárias: a Teresa do 8.º ano, o sr. Manuel do 2.º andar, a madame Bovary e… Nos livros descobri mundos por vezes mais reais do que aquele a que o meu corpo me condena. Encontros e desencontros. Com amores, loucuras, doenças, felicidadezinhas, sofrimentos, paixões, mortes. Encontros e desencontros que me trouxeram até aqui, marcada, acima de tudo, pelas tantas outras vidas que poderiam ter sido minhas.
Ah, esta solidão de sentir-me tão diferente dos outros e ao mesmo tempo tão igual a eles. Ligada, mas desatada. E o engano de que as palavras nos atarão. Engano, não, esperança.
A força de um texto na respiração, tempo e voz de Dulce Maria Cardoso.
Não me lembro da viagem de barco para Luanda, quando tinha seis meses. Lembro-me da outra, a de avião, que me trouxe de volta a Portugal, dez anos depois. Não mais regressei a África, ainda que nunca tenha chegado bem a sair de lá. Vim aquando da descolonização, na ponte aérea, fui uma entre o meio milhão de pessoas que retornaram. Mas este meu encontro com a História maiúscula não me marcou mais do que outros encontros que fui tendo com histórias minúsculas. Encontros e desencontros. Como os três desencontros com a minha morte. Ou os encontros com pessoas extraordinárias: a Teresa do 8.º ano, o sr. Manuel do 2.º andar, a madame Bovary e… Nos livros descobri mundos por vezes mais reais do que aquele a que o meu corpo me condena. Encontros e desencontros. Com amores, loucuras, doenças, felicidadezinhas, sofrimentos, paixões, mortes. Encontros e desencontros que me trouxeram até aqui, marcada, acima de tudo, pelas tantas outras vidas que poderiam ter sido minhas.
Ah, esta solidão de sentir-me tão diferente dos outros e ao mesmo tempo tão igual a eles. Ligada, mas desatada. E o engano de que as palavras nos atarão. Engano, não, esperança.