Dulce Maria Cardoso
BIO (3.ª pessoa)
Dulce Maria Cardoso publicou os romances O Retorno (2011, Prémio Especial da Crítica e Livro do Ano dos jornais Público e Expresso), O Chão dos Pardais (2009, Prémio PEN Clube Português e Prémio Ciranda), Os Meus Sentimentos (2005, Prémio da União Europeia para a Literatura) e Campo de Sangue (2001, Prémio Acontece, escrito na sequência da atribuição de uma Bolsa de Criação Literária, por parte do Ministério da Cultura Portuguesa).
Os seus romances estão traduzidos em várias línguas e publicados em mais de duas dezenas de países. A tradução inglesa de O Retorno recebeu, em 2016, o English PEN Translates Award.
Publicou contos em revistas e jornais, a maioria dos quais reunida nas antologias dos seus contos Até Nós (2008) e Tudo são Histórias de Amor (2013). Alguns deles fazem parte de várias antologias estrangeiras, e Anjos por Dentro foi incluído na antologia Best European Fiction 2012 da Dalkey Archive.
Em 2017, foram publicados os textos Rosas, escritos no âmbito da estada em Lisboa de Anne Teresa De Keersmaeker, quando a coreógrafa foi a Artista na Cidade.
Criou, ainda, a personagem Lôá, a menina-Deus, e as suas histórias infantojuvenis estão publicadas na íntegra em Itália, encontrando-se duas delas publicadas também em Portugal.
A obra de Dulce Maria Cardoso é estudada em universidades de vários países, fazendo parte de programas curriculares, e tem sido objeto de várias teses académicas.
Os realizadores João Mário Grilo e Manuel Mozos, e os encenadores Mónica Calle, Mónica Garnel e João Neca, adaptaram a cinema e teatro contos e romances seus, nomeadamente, os contos Não Esquecerás, O Retrato de um Jovem Poeta, Este Azul Que nos Cerca, Chubby Bunny, E Desde Então Não Morri e os romances Campo de Sangue e Os Meus Sentimentos. A atriz Isabel Abreu escolheu alguns textos de Rosas para se estrear como encenadora.
A autora tem participado em vários festivais, entre os quais, Birmingham Literary Festival , Passaporta e Flip. Fez ainda várias residências literárias e esteve como convidada em várias universidades portuguesas e estrangeiras. Em 2012, recebeu do Estado Francês a condecoração de Cavaleira da Ordem das Artes e Letras.
BIO (1.ª pessoa)
Não me lembro da viagem de barco para Luanda, quando tinha seis meses. Lembro-me da outra, a de avião, que me trouxe de volta a Portugal, dez anos depois. Não mais regressei a África, ainda que nunca tenha chegado bem a sair de lá. Vim aquando da descolonização, na ponte aérea, fui uma entre o meio milhão de pessoas que retornaram. Mas este meu encontro com a História maiúscula não me marcou mais do que outros encontros que fui tendo com histórias minúsculas. Encontros e desencontros. Como os três desencontros com a minha morte. Ou os encontros com pessoas extraordinárias: a Teresa do 8.º ano, o sr. Manuel do 2.º andar, a madame Bovary e… Nos livros descobri mundos por vezes mais reais do que aquele a que o meu corpo me condena. Encontros e desencontros. Com amores, loucuras, doenças, felicidadezinhas, sofrimentos, paixões, mortes. Encontros e desencontros que me trouxeram até aqui, marcada, acima de tudo, pelas tantas outras vidas que poderiam ter sido minhas.
Ah, esta solidão de sentir-me tão diferente dos outros e ao mesmo tempo tão igual a eles. Ligada, mas desatada. E o engano de que as palavras nos atarão. Engano, não, esperança.
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18:00H | Leitura por Dulce Maria Cardoso
Programa Literário Dia 25 novembro
Pavilhão de Portugal | Leitura |
Convidados: Dulce Maria Cardoso
(ver+)
A força de um texto na respiração, tempo e voz de Dulce Maria Cardoso.
Não me lembro da viagem de barco para Luanda, quando tinha seis meses. Lembro-me da outra, a de avião, que me trouxe de volta a Portugal, dez anos depois. Não mais regressei a África, ainda que nunca tenha chegado bem a sair de lá. Vim aquando da descolonização, na ponte aérea, fui uma entre o meio milhão de pessoas que retornaram. Mas este meu encontro com a História maiúscula não me marcou mais do que outros encontros que fui tendo com histórias minúsculas. Encontros e desencontros. Como os três desencontros com a minha morte. Ou os encontros com pessoas extraordinárias: a Teresa do 8.º ano, o sr. Manuel do 2.º andar, a madame Bovary e… Nos livros descobri mundos por vezes mais reais do que aquele a que o meu corpo me condena. Encontros e desencontros. Com amores, loucuras, doenças, felicidadezinhas, sofrimentos, paixões, mortes. Encontros e desencontros que me trouxeram até aqui, marcada, acima de tudo, pelas tantas outras vidas que poderiam ter sido minhas.
Ah, esta solidão de sentir-me tão diferente dos outros e ao mesmo tempo tão igual a eles. Ligada, mas desatada. E o engano de que as palavras nos atarão. Engano, não, esperança.
17:30H | Nascidos para derrubar muros
Programa Literário 27 novembro
Salão 1 | Conversa |
Convidados: Dulce Maria Cardoso / José Eduardo Agualusa
Moderação: José Manuel Fajardo
(ver+)
Há uma geração de escritores portugueses que viveram alguns dos momentos mais decisivos rumo à construção de uma sociedade mais livre e paritária. São escritores que viram cair muros dentro e fora de portas, avanços civilizacionais como não se imaginava, mas que continuam a fazer por derrubar os muros que resistem. Dulce Maria Cardoso e José Eduardo Agualusa são dessa geração que tanto assistiu ao fim do regime ditatorial português, como à queda do muro de Berlim. Autores que se envolvem na luta por um mundo menos injusto e mais sustentável. Autores que enfrentam com coragem alguns dos temas mais sensíveis do nosso tempo, como o repatriamento de quase meio milhão de pessoas das ex-colónias africanas para Portugal ou a dificuldade na consolidação de regimes democráticos. Resta saber que força ainda resta aos escritores para derrubar os muros que faltam, como o da intolerância, da segregação, da corrupção, da falta de paridade entre homens e mulheres ou da violência doméstica.