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Germano Almeida

BIO (3.ª pessoa)

Germano Almeida nasceu na Ilha da Boavista em 1945. Licenciou-se em Direito na Universidade Clássica de Lisboa. Vive em S. Vicente, onde exerce a profissão de advogado.

Publica as primeiras Estórias na Revista Ponto & Vírgula, assinadas com o pseudónimo Romualdo Cruz. Estas estórias, depois de revistas e reescritas, às quais se acrescentaram algumas inéditas, foram publicadas em 1994 com o título A Ilha Fantástica, que, juntamente com A Família Trago, em 1998, recriam os anos de infância e o ambiente social e familiar na ilha da Boavista. Mas o primeiro romance publicado por Germano Almeida foi O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo, em 1989, que marca a rutura, não só com os tradicionais temas cabo-verdianos da fome, da emigração, e do eterno dilema dos ilhéus, dilacerados entre o partir e o ficar, mas também com uma narrativa excessivamente descritiva, linear e sisuda.

O Meu Poeta (1990), Estórias de Dentro de Casa (1996), A Morte do Meu Poeta (1998) e As Memórias de um Espírito (2001) formam o que se pode considerar o ciclo mindelense da obra do autor. Em traços gerais, podemos dizer que o primeiro e segundo títulos retratam a vida pública e política de Mindelo, enquanto as Estórias nos remetem para a esfera do doméstico e as Memórias para a esfera da vida íntima. A ideia de ciclo é ainda reforçada pelo facto de muitas das personagens circularem com maior à-vontade por estes quatro livros.

O Dia das Calças Roladas (1992) e Os Dois Irmãos (1995) são estórias que têm por base episódios reais, no ambiente rural de Santo Antão e Santiago, respetivamente, e em que, na qualidade de advogado, tomou parte. Estóreas Contadas, de 1998, (55 crónicas selecionadas de entre as publicadas no jornal Público) e Dona Pura e os Camaradas de Abril, 1999, o mais pícaro dos seus romances, Viagem pela História das Ilhas, de 2003, o O Mar na Lajinha, 2004, EVA, 2006, completam a obra publicada pelo autor até o momento e todas os seus livros o título que desde sempre reclamou, o de contador de estórias. De facto, a presença ativa e manipuladora do narrador, é uma das características mais marcantes da sua escrita. Irónico e trocista, é capaz de manter o tom coloquial de quem conta uma estória, domina perfeitamente o tempo narrativo, mesmo quando os acontecimentos são contados do fim para o princípio em permanentes e inesperados saltos. Antecipa-se para nos surpreender, outras vezes recua para nos fornecer pormenores necessários à compreensão dos factos. Manipula a realidade e a ficção, como se de infindável jogo de espelhos se tratasse, fundindo, distorcendo, recriando.

BIO (1.ª pessoa)

A minha primeira incursão no mundo da escrita foi a propósito de um naufrágio, numa noite de temporal, de um barquinho de pesca com uns dez homens a bordo, numa viagem Boavista-Sal. Eu devia ter 14/15 anos e lembro-me do nome de muitos deles. Foi assim que descobri o prazer de contar estórias por escrito. Tudo a lápis: embora tivesse acesso a máquina de escrever, o seu chinfrim impedia-me de concentrar as ideias. Tomei gosto à coisa e escrevi sobre tudo o que me vinha à cabeça, e até a versejar, que não a poetar, me atrevi.  Já na tropa em Angola, para passar o longo tempo dos quartéis, recriei a minha infância de fantasias, cujas páginas, no entanto, foram ficando não sei por que malas ou caixotes e lugares, até porque considerava essas estórias demasiado malucas para serem mostradas. Isso até me cruzar com Cem Anos de Solidão e o fio de sangue que percorre Macondo e entra em casa da Úrsula e caminha junto às paredes até a encontrar na cozinha e a avisa da morte de José Arcádio.

Voltei a pegar nas estórias e quando as achei publicáveis dei-lhes o nome de Estórias da Boa Vista. Porém, o meu amigo João Nuno Alçada, então conselheiro cultural junto da Embaixada de Portugal, leu e discordou: «Vão pensar que são histórias do Boavista Futebol Clube.» Sugeriu Estórias Verídicas da Ilha Fantástica. Foi Zeferino Coelho, editor da Caminho, quem propôs encurtar para A Ilha Fantástica.

O computador revolucionou a minha escrita: não fazia barulho, e permitia apagar e voltar a escrever como se nada existisse antes. Quando pela primeira vez me deparei com a Amstrad, escrever com intuito de publicar tinha deixado de ser uma mera hipótese. Talvez o Testamento tenha sido o primeiro livro caboverdiano a ser escrito em computador.

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17:00H | Desde as duas margens de África

Programa Literário 29 novembro

Pavilhão de Portugal | Conversa

Convidados: Germano Almeida / Mia Couto

Moderação:

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Imaginar que uma língua que é falada em quatro continentes poderia ser igual em todos eles é de uma enorme ingenuidade. Existem várias literaturas lusófonas, cada uma delas marcada por um património comum, mas declinado de diferentes formas na Europa, em África ou na América do Sul. Como é que Moçambique e Cabo Verde se apropriaram da língua portuguesa e do património literário até então construído, para edificarem as suas próprias literaturas? Já se pode, hoje, falar numa literatura moçambicana ou numa literatura cabo-verdiana? E de que características ou elementos fundadores se fazem estas literaturas? A geografia e dimensão dos próprios países condiciona a literatura? Terá Moçambique uma maior influência asiática, por partilhar o Índico? A maior proximidade a Portugal e França influenciaram de alguma forma a literatura cabo-verdiana? Como é que dois dos maiores escritores de língua portuguesa olham para estas questões?



16:00H | Entrevista a Germano Almeida

Programa Literário 1 Dezembro

Pavilhão de Portugal | Entrevista |

Convidados: Germano Almeida

Moderação:

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Uma entrevista de vida a Germano Almeida, com registo informal.
Germano Almeida nasceu na Ilha da Boavista em 1945. Licenciou-se em Direito na Universidade Clássica de Lisboa. Vive em S. Vicente, onde exerce a profissão de advogado.
Publica as primeiras Estórias na Revista Ponto & Vírgula, assinadas com o pseudónimo Romualdo Cruz. Estas estórias, depois de revistas e reescritas, às quais se acrescentaram algumas inéditas, foram publicadas em 1994 com o título A Ilha Fantástica, que, juntamente com A Família Trago, em 1998, recriam os anos de infância e o ambiente social e familiar na ilha da Boavista. Mas o primeiro romance publicado por Germano Almeida foi O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo, em 1989, que marca a rutura, não só com os tradicionais temas cabo-verdianos da fome, da emigração, e do eterno dilema dos ilhéus, dilacerados entre o partir e o ficar, mas também com uma narrativa excessivamente descritiva, linear e sisuda.
O Meu Poeta (1990), Estórias de Dentro de Casa (1996), A Morte do Meu Poeta (1998) e As Memórias de um Espírito (2001) formam o que se pode considerar o ciclo mindelense da obra do autor. Em traços gerais, podemos dizer que o primeiro e segundo títulos retratam a vida pública e política de Mindelo, enquanto as Estórias nos remetem para a esfera do doméstico e as Memórias para a esfera da vida íntima. A ideia de ciclo é ainda reforçada pelo facto de muitas das personagens circularem com maior à-vontade por estes quatro livros.
O Dia das Calças Roladas (1992) e Os Dois Irmãos (1995) são estórias que têm por base episódios reais, no ambiente rural de Santo Antão e Santiago, respetivamente, e em que, na qualidade de advogado, tomou parte. Estóreas Contadas, de 1998, (55 crónicas selecionadas de entre as publicadas no jornal Público) e Dona Pura e os Camaradas de Abril, 1999, o mais pícaro dos seus romances, Viagem pela História das Ilhas, de 2003, o O Mar na Lajinha, 2004, EVA, 2006, completam a obra publicada pelo autor até o momento e todas os seus livros o título que desde sempre reclamou, o de contador de estórias. De facto, a presença ativa e manipuladora do narrador, é uma das características mais marcantes da sua escrita. Irónico e trocista, é capaz de manter o tom coloquial de quem conta uma estória, domina perfeitamente o tempo narrativo, mesmo quando os acontecimentos são contados do fim para o princípio em permanentes e inesperados saltos. Antecipa-se para nos surpreender, outras vezes recua para nos fornecer pormenores necessários à compreensão dos factos. Manipula a realidade e a ficção, como se de infindável jogo de espelhos se tratasse, fundindo, distorcendo, recriando.