© Ruben Canhão Ribeiro

Isabela Figueiredo

BIO (3.ª pessoa)

Isabela Figueiredo nasceu em 1963, em Lourenço Marques – atual Maputo, em Moçambique. A Revolução dos Cravos, que derrubou a ditadura em Portugal, em Abril de 1974, garantiu a independência às colónias africanas. A convulsão política deste período, catapultou para Portugal um contingente de meio milhão de portugueses que viviam nos territórios africanos, a maior parte deles aí nascidos, e sem relação próxima com a metrópole imperial. Isabela integrou este contingente, a que se deu o nome de «retornados». O seu «retorno» configurou, de facto, um exílio em terra estranha: a terra dos seus pais, a pátria da sua língua materna.
Vive em Portugal desde 1975, para onde a remeteram sozinha, aos 13 anos, com o objetivo de assegurar a continuação dos estudos e garantir a segurança, nesse período de grande violência política e social. Voltou a reunir-se com os pais, uma década depois, em Portugal, terra na qual foi encontrando sentido, e aprendendo a amar, após anos de desenraizamento.
Foi em Portugal que estudou e se tornou adulta. Foi jornalista e é professora de Português. Estudou literatura, linguística, história e sociologia. Interessa-se por questões de poder, nomeadamente no âmbito da ética animal, género, raça e imagem, questões que surgem nos seus livros, desenvolvidas através de um estilo realista, cru, por vezes violento.
A sua escrita encontra-se também marcada pela conjuntura cultural, política e geográfica na qual viveu os anos estruturais da sua infância e adolescência. Escreve sobre a vivência de um quotidiano colonial cheio de injustiça e indignidade, sobre o exílio na terra dos seus pais, sobre perda, crescimento, resiliência e resistência. O seu espaço narrativo foca-se em Portugal e nos territórios africanos que antes viveram sob administração portuguesa. O contexto histórico que lhe interessa é o século XX e a atualidade.
Isabela Figueiredo voltou tardiamente a Moçambique, 41 anos após a sua partida. Sentiu-se estrangeira na terra onde nasceu e onde a geografia do seu passado permanece intacta.
Ama a terra dos seus pais, que passou a ser a sua.

BIO (1.ª pessoa)

Tenho 55 anos. Começo a sentir-me velha, mas sei que tenho muito para viver. A literatura esteve sempre presente na minha vida. Comecei a escrever cedo, mas nunca acreditei que pudesse tornar-me escritora. Era um mundo distante para pessoas com a minha origem proletária e rural. Parecia-me almejar alto demais, pelo que acabei por me dedicar a profissões paralelas, como o jornalismo e a docência. Precisava de auferir um salário certo e seguro, o que a literatura não garantia. A experiência de vida encarregou-se de fazer de mim escritora numa idade madura.

Sou uma pessoa de fácil acesso, mas de difícil sedução. Tenho gostos singelos, mas sou complexa, racional e metódica. Aprecio a natureza, os animais e a solidão, embora estime uma boa conversa. Antes de saber ler ou escrever já ia ao cinema, entendendo os filmes sem compreender as legendas. Esse contato com o cinema influenciou-me muito. A sua linguagem e estética existe no que escrevo. Penso os meus livros de forma visual. Eles são um filme que vejo na mente.

Escrever é o meu propósito. Escrevo histórias sobre o que penso ser a vida. Gosto de viver e quero esgaravatar esse mistério que me fascina. Pretendo que os leitores se revejam no que crio e se consigam ver, bem como aos seus costumes, de fora para dentro.

Tenho otimismo e esperança no futuro. Acredito no espírito de missão. Creio que estamos a caminho de uma existência melhor, que a Terra nunca acabará e que a morte do corpo equivale à das plantas no Inverno.

Ver nome do convidado na programação

18:30H | Do Índico ao Atlântico, uma viagem de ida e volta

Programa Literário 29 novembro

Salão 1 | Conversa |

Convidados: Isabela Figueiredo / Lídia Jorge

Moderação:

(ver+)
É controversa a relação de Portugal com o seu passado e, sobretudo, com a colonização e descolonização. Por muitos atos de contrição que se façam, já ninguém reescreve a história ou corta os laços entre Portugal, Angola, Moçambique, Brasil ou Timor-Leste. Como terá a literatura lidado com este passado e com o espaço lusófono global? Na última década têm sido publicados vários romances que evocam de forma algo saudosa os tempos coloniais, mas continuam a ser raros os romances que reflitam sobre a relação de Portugal com as suas ex-colónias e as guerras de independência em África. Lídia Jorge e Isabela Figueiredo são duas autoras que escreveram sobre um tempo em que se dizia que Portugal ia de Lisboa a Timor. Lídia explora o ambiente militar em Moçambique ainda antes da descolonização. Isabela parte da sua experiência pessoal e civil para reconstruir o ambiente da colonização portuguesa em Moçambique