Programa Literário Dia 29 novembro
Pavilhão de Portugal | Leitura |
Convidados: Filipa Leal
(ver+)
A força de um texto na respiração, tempo e voz de Filipa Leal.
Quando eu era pequenina queria ser cientista, ou palhaço. Tinha, como se calcula, a mania das grandezas. O primeiro poema que escrevi não era um poema. Era uma folha de Outono que apanhei do chão e que pedi à minha avó Isabel para enviar para uma tia dela muito querida que vivia em Lisboa, a tia Zélia. Esta é das poucas histórias que me contaram da minha infância, por isso imagino que tenha sido uma criança bastante discreta. Lembro-me de brincar sozinha muitas vezes, é certo, mas tenho pensado se não seria já este meu lado de querer controlar tudo — assim, quem mandava na brincadeira era eu.
O meu pai esteve dois anos na guerra, na Guiné. Um dia contou-me que na camarata onde dormia havia uma frase que nunca esqueceu. Dizia: «Devemos ousar». Como também eu queria ousar, fui para Londres estudar Jornalismo, onde vivi três anos. Lá aprendi a amar melhor a família, a estar um pouco mais calada, e a dizer «Olá, eu sou a Filipa» em japonês. Especializei-me em imprensa, apaixonei-me por rádio e odiei televisão. A minha mãe também costumava citar uma frase que nunca esquecerei: «A vida é aquilo que acontece enquanto nós fazemos outros planos». Como se calcula, acabei a trabalhar em televisão.
Tenho um defeito de rotação no rim esquerdo, e também no direito, embora mais ligeiro. Tenho outros defeitos, mas nenhum deles de nome tão pomposo. O resto são pormenores: chamo-me Filipa Leal, tenho 39 anos, e publiquei alguns livros de poesia.
A força de um texto na respiração, tempo e voz de Filipa Leal.
Quando eu era pequenina queria ser cientista, ou palhaço. Tinha, como se calcula, a mania das grandezas. O primeiro poema que escrevi não era um poema. Era uma folha de Outono que apanhei do chão e que pedi à minha avó Isabel para enviar para uma tia dela muito querida que vivia em Lisboa, a tia Zélia. Esta é das poucas histórias que me contaram da minha infância, por isso imagino que tenha sido uma criança bastante discreta. Lembro-me de brincar sozinha muitas vezes, é certo, mas tenho pensado se não seria já este meu lado de querer controlar tudo — assim, quem mandava na brincadeira era eu.
O meu pai esteve dois anos na guerra, na Guiné. Um dia contou-me que na camarata onde dormia havia uma frase que nunca esqueceu. Dizia: «Devemos ousar». Como também eu queria ousar, fui para Londres estudar Jornalismo, onde vivi três anos. Lá aprendi a amar melhor a família, a estar um pouco mais calada, e a dizer «Olá, eu sou a Filipa» em japonês. Especializei-me em imprensa, apaixonei-me por rádio e odiei televisão. A minha mãe também costumava citar uma frase que nunca esquecerei: «A vida é aquilo que acontece enquanto nós fazemos outros planos». Como se calcula, acabei a trabalhar em televisão.
Tenho um defeito de rotação no rim esquerdo, e também no direito, embora mais ligeiro. Tenho outros defeitos, mas nenhum deles de nome tão pomposo. O resto são pormenores: chamo-me Filipa Leal, tenho 39 anos, e publiquei alguns livros de poesia.