Programa Literário Dia 2 Dezembro
Pavilhão de Portugal | Leitura
Convidados: Rui Cardoso Martins
(ver+)
A força de um texto na respiração, tempo e voz de Rui Cardoso Martins.
Sou o que se chama em português, num ramo mais manual, um «faz-tudo». Escrevo romances, contos, crónicas, reportagem, teatro, cinema, televisão, comédias e tragédias. Apesar das diferenças de código e de grau de realidade, desde que a verdade seja expressa o espírito é comum. Por exemplo, há muito que quero conhecer Guadalajara porque há vinte anos estive na Fiesta de Los Muertos (Morelia, Oaxaca, Janítzio, Sierra Mazateca) e numa praça da Ciudad de México fui cercado por centenas de mariachis disputando-me, com alguma violência, para uma canção de amor… Escrevo contra a maldade e a ignorância que estão dentro de mim. Escrevo também a favor delas, são adversários magníficos a quem foram dados muitos anos de avanço. Escrevo porque me pediram para escrever e porque me pediram para não escrever. Escrevo porque tenho muitos amigos e alguns deles são um pouco malucos. E tenho filhos e pais e irmãs e mulher. Escrevo porque viajei e vi injustiça e sofrimento. Não serve de nada escrever sobre desgraças, mas algum nada temos de fazer. Muito do sofrimento que vi é meu e português e mundial. Também faz rir, mas acredito que o humor é aprofundar, não aligeirar. Escrevo contra as pessoas parvas. E pelos vivos e pelos mortos, as pessoas vivem e de repente morrem-nos. E o mar tem peixes e os bosques pássaros e os esgotos ratos. Escrevo porque é uma profissão interessante, há de certeza melhores, mas não me calharam nem podia ser.
A força de um texto na respiração, tempo e voz de Rui Cardoso Martins.
Sou o que se chama em português, num ramo mais manual, um «faz-tudo». Escrevo romances, contos, crónicas, reportagem, teatro, cinema, televisão, comédias e tragédias. Apesar das diferenças de código e de grau de realidade, desde que a verdade seja expressa o espírito é comum. Por exemplo, há muito que quero conhecer Guadalajara porque há vinte anos estive na Fiesta de Los Muertos (Morelia, Oaxaca, Janítzio, Sierra Mazateca) e numa praça da Ciudad de México fui cercado por centenas de mariachis disputando-me, com alguma violência, para uma canção de amor… Escrevo contra a maldade e a ignorância que estão dentro de mim. Escrevo também a favor delas, são adversários magníficos a quem foram dados muitos anos de avanço. Escrevo porque me pediram para escrever e porque me pediram para não escrever. Escrevo porque tenho muitos amigos e alguns deles são um pouco malucos. E tenho filhos e pais e irmãs e mulher. Escrevo porque viajei e vi injustiça e sofrimento. Não serve de nada escrever sobre desgraças, mas algum nada temos de fazer. Muito do sofrimento que vi é meu e português e mundial. Também faz rir, mas acredito que o humor é aprofundar, não aligeirar. Escrevo contra as pessoas parvas. E pelos vivos e pelos mortos, as pessoas vivem e de repente morrem-nos. E o mar tem peixes e os bosques pássaros e os esgotos ratos. Escrevo porque é uma profissão interessante, há de certeza melhores, mas não me calharam nem podia ser.