Margarida Vale de Gato
BIO (3.ª pessoa)
Margarida Vale de Gato publicou contos em revistas e antologias nacionais e internacionais e escreveu para o teatro, com Rui Costa, a peça Desligar e Voltar a Ligar, editada em 2011 pela Culturgest. Dedica-se sobretudo à poesia, com os livros Lançamento (Douda Correria, 2016), e Mulher ao Mar (Mariposa Azual, 2010), que teve uma edição aumentada em 2013 (Mulher ao Mar Retorna) e outra em 2018 (Mulher ao Mar e Grinalda). Em 2017 foi poeta convidada no festival International Poetry, de Roterdão, e a editora Azul Press publicou uma antologia sua em neerlandês, Tegenspelers. Além disso, foram traduzidos, em revistas, coletâneas e sites de divulgação, poemas seus para alemão (lyrikline.org, Neu Europäische Poesie), castelhano (Quimera), inglês (28 Portuguese Poets, New Orleans Review, Trafika Europe, Portuguese Studies, poemsfromtheportuguese.org, poetryinternationalweb.net) e italiano (Per le parole che si ostinano a restare, Atelier). No México, está representada na antologia Nueve poetas portugueses para un nuevo siglo (Universidad Nacional Autónoma de México, 2016).
Iniciou a vida profissional como assistente editorial, fundou com Pedro Coelho uma pequena editora para livros de texto e imagem (Errata, extinta em 2007), exerce a atividade de tradução literária há mais de duas décadas. São suas algumas das versões em português de George Sand, Henri Michaux, René Char, Nathalie Sarraute, Dickens, Poe, Yeats, Twain, Marianne Moore, Vladimir Nabokov, Jack Kerouac, Sharon Olds, Alice Munro, entre outros. Recebeu o Prémio de Tradução Alberto de Lacerda em 2012 e uma Menção Honrosa da Sociedade Portuguesa de Autores em 2015.
Doutorou-se em 2008 com uma tese de doutoramento sobre a receção de Edgar Allan Poe na lírica portuguesa da segunda metade do século XIX. Tem publicado obras ensaísticas dentro das suas áreas de especialidade como Edgar Allan Poe em Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal, 2009), Translated Poe (coorganização com Emron Esplin, 2014), Nem Cá Nem Lá: Portugal e América do Norte Entre Escritas (coorganização, 2016) ou The Collaborative Anthology in the Literary Translation Course (2015) — os dois últimos, frutos do projeto de tradução colaborativa PEnPAL in Translation que implementou de 2011 a 2016.
É professora e investigadora na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), nas áreas de Estudos Norte-Americanos e Tradução Literária.
BIO (1.ª pessoa)
Texto de Apresentação
1.
É-me indiferente: poeta, poetisa
dependerá do rimo ou da medida ––
prefiro tradutora, mas admito
que por vezes não dobro e sou narcisa.
2.
A minha primeira poesia era
sobre chuva e choro. Hoje seria
prosa, ou sobre chuva e a pólvora:
chove fora viola o vento o vidro,
a rua nunca é como os prospetos ––
O meu bilhete ao mundo, espeto-o
com delicado verbo ao coração.
Rebenta, murcho músculo entupido ––
mil vezes fosse a vida a exceção.
3.
se o rigor do verso não visa qualquer prova
senão procura —
ou provar o que seja de sabor.
Se não escrevo por encomenda
senão por ventura serôdia
4.
posso posar, certamente,
para a máquina fotográfica,
moldar a boca ao disparo ou regular
a abertura ao diafragma. Dependente
do papel revelador —
modelo artista presa, sou como todos:
as vidas que não toco interessam-me
num desequilíbrio de voracidade e avareza.
Antes ainda assim me conheçam de vista
que de revista.
Ver nome do convidado na programação
Programa Literário 1 Dezembro (ver+) 12:00H | A via paralela
Pavilhão de Portugal | Conversa
Convidados: José Javier Villarreall / Margarida Vale de Gato
Moderação: Blanca Luz Pulido
Há muito que, por questões de mercado, as grandes editoras abrandaram na edição de livros de poesia. Salvaguardado algumas, poucas, honrosas excepções, a poesia não é uma prioridade e cinge-se muitas vezes à produção de antologias e obras completas de autores consagrados. Quando se reduz a margem de publicação, são os jovens poetas que mais sofrem, sendo quase impossível a entrada numa editora estabelecida. Haverá um caminho alternativo para os poetas? Portugal não está sozinho neste processo e vários países europeus constituíram redes de microeditoras e distribuição alternativa em livrarias independentes. É este o futuro, ou melhor, o presente da poesia? Estão os poetas condenados a criar a sua própria editora, com grupos de autores capazes de construir um catálogo e uma rede de distribuição nacional? Como estão os poetas a ver estas alterações na forma de editar poesia?